quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Liberte um livro

A cada vez que deparo com projetos de estímulo à leitura, me pergunto: que eficácia terá isso? Ainda acho que o verbo “ler”, assim como “sonhar” e “amar”, não comporta o imperativo. Digamos que o adolescente tem pais que não leem, e que sua sala não tem sequer uma estante com livros. Um projeto do município ou do Estado terá condições de incentivá-lo a ler?

Taí, breve introdução pra dar a dica de um site bem bacana, esse aqui. A ideia é fazer os livros circularem. Leia, entre no site, imprima uma folha para colar na capa interna com o código do livro, e pronto: ele está pronto para ser “libertado”, em lugar público, numa praça, numa lanhouse etc. No site, o livro que você libertou estará registrado sob um código, e você pode acrescentar informações sobre quando e onde o deixou.

Uma ideia pra lá de interessante, e a solução definitiva para aqueles livros que estão pegando poeira na estante, e que, como você bem sabe, só serão (re)lidos na próxima encarnação.

Em tempo: no momento em que escrevo, o site conta com 5.220 livros libertados. Pouco, mas um excelente começo.

Cancioneiro (10)

Os olhos do oriente
Velados ao mundo da gente
Só vêem o sol e os céus

Olhos ardentes de amor
Amordaçados estão
Feito prisioneiros
Do olhar de Deus

Mas vêem, os olhos vendados
Os olhos vidrados não
Olhos fechados pra ver
Abertos à imaginação
Olhos abandonados até pela solidão

Quem olhará por estas mulheres
Escravas silenciosas
Costurando o manto
Que lhes servirá de prisão?

“Oriente”, de Márcio Faraco. Álbum Com Tradição, 2004.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Os afluentes e o rio

Levei um bom tempo para elaborar a lista abaixo, com os autores que me marcaram profundamente. Isso porque quis evitar qualquer afetação. Nada de mencionar autores pelo mero fato de se tratar de um “clássico”, nada de ceder a cutucões do ego. Não, este é meu cânone particular e único.

Em ordem alfabética: Rubem Alves, Woody Allen(*), Matthew Appleton, Machado de Assis, Jon-Roar Bjѳrkvold, Ignácio de Loyola Brandão, Joseph Campbell, Charlie Chaplin(**), Dostoiévski, Gandhi, Índigo, Carl Jung, Janusz Korczak, Krishnamurti, Rodrigo Lacerda, Rosa Montero, Thomas Moore, A.S. Neill, Mário Quintana, Graciliano Ramos, Nelson Rodrigues, Fernando Sabino, Leon Tolstoi, Donald Walsch e P.G. Wodehouse.

Fato é que, para mim, tais autores são afluentes de um rio caudaloso: Osho. Este indiano sintetiza, e com maestria, uma enorme parcela daquilo que deixou marcas indeléveis em minha trajetória de leitor.

A ironia é que ele jamais escreveu um livro sequer. Toda a sua bibliografia – são mais de 200 livros, 74 dos quais estão disponíveis em português (ver aqui) – consiste em transcrições dentre mais de 5 mil horas de palestras dadas ao longo de 35 anos.

(*) Entrevistas com Eric Lax, no livro Conversas com Woody Allen (Cosac Naify).
(**) Sua autobiografia

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

A frase do semestre

“Não digito 45 nem em telefones”.

Personagem de André Dahmer, em seu blog.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

ECT: economia no envio de livros

É comum, em nosso país, que as informações que beneficiam o cidadão sejam ocultadas. Por isso, é da maior importância, a divulgação dessa notícia. A menos que você considere que os valores cobrados pelos Correios, no envio de livros, sejam realmente baratos. Detalhes, no site Viaje na Leitura, aqui.

Por que voto Marina

Estava praticamente decidido a anular meu voto, quando assisti à entrevista de Marina Silva no Roda Viva. Mudei de ideia, no mesmo dia. Conversando com várias pessoas, percebo que elas têm bastante simpatia pela candidata do PV, mas dizem que não votam nela. São basicamente três, os argumentos apresentados:

1. Marina é uma ótima candidata, mas para daqui a 4 anos. Não para agora. Não está madura, dizem. Ainda se mostra radical. Argumento um tanto quanto abstrato. Juro que não entendo o que quer dizer isso, e a argumentação deles tampouco é convincente. Lembro que um temor parecido acometeu grande parte dos eleitores em 1989 (o Sapo Barbudo) e em 2002. O fato de o PV não ter feito alianças talvez contribua para reforçar o temor.

2. Além de ser evangélica, Marina é favorável ao ensino da teoria criacionista nas escolas. Um argumento que é fruto da ignorância, do preconceito e da intolerância religiosa – gostamos de acreditar que o sincretismo nos faz especiais diante do mundo, mas, assim como o racismo, nossa intolerância é dissimulada. Embora predominantemente católico, nosso país é laico. Portanto, é ingênuo acreditar que, uma vez eleita, ela seria teleguiada pelos evangélicos, no que se refere às políticas públicas. Não estamos no Irã. Sobre o criacionismo, Marina já declarou diversas vezes que defende, simplesmente, que os alunos tenham acesso a esta teoria juntamente com o evolucionismo. Propõe, portanto, a convivência pacífica, não a exclusão.

3. Não voto nela porque não tem chances; veja as pesquisas, tem apenas 10% das intenções de voto. Além de frágil, um argumento que se baseia no medo e no eterno apego ao que é familiar e conhecido. E apaga da memória fatos importantes, como a arrancada final de Luiza Erundina, na eleição para a Prefeitura de São Paulo em 1989, contra Paulo Maluf, quando todas as pesquisas apontavam a vitória deste.

Além das contra-argumentações acima, pesam muitíssimo a seu favor alguns fatores: 1) o fato de ser a única candidata com uma chapa coerente. São reais, as afinidades entre ela e seu candidato a vice, Guilherme Leal (para saber mais, leia o perfil dele, na revista piauí deste mês). Honestamente, não consigo imaginar o país governado por Índio da Costa ou por Michel Temer, ambos transformados em candidatos por conveniência (alianças com DEM e PMDB = maior tempo no horário eleitoral). O leitor acha que não há esse risco? Ora, Itamar Franco e José Sarney – para ficarmos na história mais recente – não tiveram de assumir? Deste último, minhas lembranças não são das melhores; 2) Marina rejeita a atitude messiânica que se espera de um presidente eleito, para a resolução dos problemas. Afirma reiteradamente que não fará milagres, bem como a necessidade de dialogar com toda a sociedade, inclusive com aqueles frontalmente opostos às suas propostas; 3) Em assuntos espinhosos, como a liberação do aborto, abandona o moralismo e deixa suas convicções pessoais em segundo plano: é favorável à consulta da população, via plebiscito; 4) Em que pese o radicalismo de alguns setores de seu partido, lutar por um planeta habitável é tarefa nobre. Afinal, é de nossa casa que estamos falando.

Em tempo: sobre o porquê de anular o voto. Ao optar por Marina, exerci meu sagrado direito, o de mudar de opinião quando bem entender. A anulação, que virá num eventual segundo turno entre Dilma e Serra ou noutra eleição qualquer, é uma maneira de protestar. Que raio de democracia é essa em que se pune o eleitor que decide não comparecer às urnas? Refrescando sua memória, em relação às punições: corte do ponto para os servidores públicos, multa, cassação de direitos do cidadão, como o de prestar concursos públicos, ou até mesmo o de tirar passaporte. Práticas que talvez fossem comuns na URSS de Stálin, mas que ocorrem num país supostamente democrático dos trópicos. A propósito: é lamentável que a discussão sobre o voto facultativo seja virtualmente ignorada pelos candidatos.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

No meio

No momento em que batuco estas linhas no teclado, meu filhote, acompanhado de seus trinta colegas de classe, está a caminho de MG. Visita às cidades históricas (adjetivo sem o menor sentido: existe alguma cidade “a-histórica”?).

Iniciativa louvável, a da escola. Ideia brilhante, não fosse por um detalhe. Não sei que porcentagem dessa viagem, de três dias, será dedicada ao desfrute puro. Mas é praticamente líquido e certo que, ao voltar, terão de escrever um relatório ou fazer uma prova, valendo nota. Enfrentando questões do tipo: quem foi o principal escultor do período barroco brasileiro? Onde estão suas obras? Etc etc. É o tal “estudo do meio”, expressão que me dá calafrios.

Lembro do relato de Matthew Appleton, sobre Summerhill. Diz ele que nesta escola não há segundas intenções: quando levam os alunos, por exemplo, para um passeio no bosque, é pelo passeio em si, não para estudar os tipos de planta, insetos e demais animais.

Ainda chegaremos neste estágio.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Ouvir sem escutar

“Quando duas pessoas estão conversando, apenas observe seus rostos. Uma pessoa está dizendo algo, a outra já está se preparando para responder a isso; ela não está escutando. Eu ouvi contar:

Aconteceu em uma universidade, dois professores ficaram loucos. (...) Os dois eram amigos, foram colocados ambos no mesmo quarto do asilo. O psiquiatra que cuidava deles ficou surpreso com uma coisa: sempre que eles conversavam, um deles escutava muito atentamente, tanto como o psiquiatra nunca tinha visto qualquer pessoa fazer antes, e se mantinha quieto; um deles permanecia completamente calado e atento e escutando. E, quando o outro parava, então o que estava escutando pacientemente começava a falar. E o problema para o psiquiatra era este: o que eles diziam não se relacionava com um ou com outro em nada. Um deles falava sobre o céu e o outro falava sobre a terra, um falava sobre o leste e o outro falava sobre o oeste.

Eles não estavam relacionados em nada, nem mesmo em aparência; estavam totalmente sem conexão. Mas isso não estava certo, porque com pessoas loucas você espera por isso. Mas por que um deles sempre escutava tão atentamente, para quê?, visto que, quando falava, por sua vez, o que dizia era algo absolutamente diferente, não pertinente a nada, absolutamente fora de contexto.

O psiquiatra desejava muito saber, ele ficou curioso e indagou: ‘Uma coisa me deixa muito curioso: vocês escutam um ao outro muito atentamente, mas, quando falam, suas falas não se relacionam em nada. Então por que escutam tão atentamente?’.

Eles riram e disseram: ‘Nós sabemos as regras de conversação. Esta é uma regra de conversação: quando a pessoa fala, o outro tem de escutar. E, no que toca a segunda coisa – que o que nós dizemos não está relacionado – você já ouviu qualquer conversa que esteja relacionada?’”

A revolução – Conversas sobre Kabir, de Osho. Trad. Carlota Alice de Moura, Ed. Academia, 2008.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Capitulei (*)


Tem algo de magnético no teledrama de Silvio de Abreu, que me leva a admitir – sim, pela primeira vez desde Aritana, na finada TV Tupi, estou acompanhando a novela. Uma série de ingredientes. A eles, pois.

1. A altíssima concentração de canalhas e pilantras de toda sorte, por metro quadrado. Quanto maior a vilania, maior é o poder de atração de qualquer história.

2. Meus antepassados vêm da Bota. Fico ligado, portanto, no neo-italiano falado pelos personagens. Uma língua híbrida, que não existe nem na Toscana, nem na Mooca, nem na Festa de Aquiropita. Repare que as falas saem com interpretação consecutiva, tipo: “Sonno tuo padre! Sou teu pai!”, as frases sendo encaixadas em sequência.

3. Alguns temas dão pano pra manga: o adultério (motivado ou não pelo tédio no casamento), a exploração sexual das adolescentes, o uso de drogas. Nada brilhantemente discutido – seria esperar demais da tevê –, mas estão lá, e isso já tem o mérito de fazer com que se pense e fale a respeito.

4. Certas falas, sobretudo de personagens femininas, causam um espanto inicial: como pode a autoestima de alguém estar num poço assim fundo? A chantagem emocional, por sua vez, é onipresente. Mas o que soa caricato logo ganha ares de verossimilhança, já que por perto há sempre uma pessoa disposta a assumir o papel de vítima, a manipular, a propor jogos. Às vezes, a encontramos no espelho mais próximo.

5. Uma comparação interessante. Terminei, há pouco, a leitura de Núpcias de Fogo, de Suzana Flag (Cia. das Letras). Este é o pseudônimo usado por Nelson Rodrigues neste folhetim originalmente publicado no jornal em 1948. Como se sabe, o folhetim é o pai da radionovela, e avô da telenovela. Nelson dominava a arte de alimentar o suspense, no final de cada capítulo, o que Silvio de Abreu faz com eficiência. Tal qual em Passione, o fato de os personagens trabalharem, estudarem, ou terem uma atividade qualquer, é completamente secundário. Tudo o que interessa é quem fica com quem, quem perde quem. Curiosa sinc: a vilã em Núpcias, uma solteirona frustrada, tem o nome de... Clara.

Ah, faltou dizer. Àqueles para quem esse post pode me deixar “mal na fita”, respondo com Nelson Rodrigues: “Só os idiotas têm medo do ridículo”.

(*) Título com leitura alternativa: Capitu, lei, já que “lei” é “ela” em italiano. Um toque machadiano numa história recheada de casos de traição.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Temas-tabu na literatura infanto-juvenil

No caderno Sabático, do Estadão, uma matéria de Antonio Gonçalves Filho aborda o livro Crítica, Teoria e Literatura Infantil, de Peter Hunt, da Universidade de Cardiff (Cosac Naify, trad. Cid Knipel). Trata de uma questão importante: o fato de a literatura infanto-juvenil ser relegada a um segundo plano, pela academia. Afirma o autor: “Claro que não sabemos como uma criança lê, se ela o faz como uma experiência literária ou funcional, mas não vejo razão para que os livros de criança recebam menos atenção que uma obra de Shakespeare”. Uma outra matéria, de Raquel Cozer, publicada ao lado, destaca o expressivo crescimento do gênero no Brasil (entre 2006 e 2009, o segmento juvenil cresceu 256%, enquanto o infantil teve um aumento de 124%). Nada mau.

Atento para uma declaração de Hunt, sobre os supostos “finais felizes” das histórias destes livros: “’Claro, não acho uma boa ideia escrever sobre doenças terminais para o público infantil’, responde, ao se referir a livros como Vovô Esqueceu Meu Nome, de Nancy Grünewald, sobre um ancião que sofre do mal de Alzheimer”. A seguir, pergunta-se se “devemos ou não escrever” sobre o episódio da bomba atômica de Hiroshima.

A comparação é inevitável: o mais recente livro da Mulher é Gagá: memórias de uma mente pirilampa (Scipione), no qual o protagonista sofre “apagões” mentais. Terá algum pai, alguma mãe – ou professor responsável pela seleção de obras para trabalho em sala – também considerado este tema “inadequado” para as crianças (a indicação da obra, pela editora, é para leitores a partir de 9 anos)? Uma eventual censura ao livro de Grünewald – ou a Gagá – devido ao tema não implicaria um endosso à atitude corrente, de desprezo à velhice (fase a que muitos se referem usando eufemismos tolos como Melhor Idade)?

A declaração de Hunt, em si, daria uma excelente pauta, infelizmente não explorada pelo jornal: há temas-tabu, a serem evitados na literatura infanto-juvenil? Em que medida pode-se fugir da onda do politicamente correto, esta praga contemporânea que tem tolhido a criatividade de tanta gente?

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Cancioneiro (9)

Zeca Baleiro, em dois momentos.

“Não quero medir a altura do tombo
Nem passar agosto esperando setembro”.

“Bandeira”, do álbum Por onde andará Stephen Fry?, MZA Records, 1997.


“(...) Morrer de amor não é difícil, não
Se atirar do edifício
Viver de amor é que é difícil
Se atirar.”

“Xote do edifício”. Trilha sonora de Z.B. para o espetáculo de dança Geraldas e Avencas. Saravá Discos, 2007.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Osho, Krishnamurti e os rótulos

Sempre que entro numa livraria, tento imaginar quanta grana os editores e livreiros têm jogado pelo ralo, com a classificação por assuntos. Ok, isso dá ao leitor uma orientação geral – ainda que, segundo a lenda, Raízes do Brasil, de Sérgio Buarque de Holanda, já tenha sido catalogado na seção de Botânica por um bibliotecário incauto.

Num delírio de imaginação, tento visualizar uma livraria nos tempos de Leonardo da Vinci. Ou de Aristóteles. Tempos em que as áreas do conhecimento pareciam dialogar muito mais.

Mas divago. Por que o desperdício de dinheiro? É a terceira vez que deparo com esta situação. Imagine um livro intitulado Coragem. Seu apelo comercial é quase zero, não? Mistério: na edição original sai assim mesmo, Courage, sem subtítulos, e vende igual. Aqui, não. Deve-se explicar tudo ao leitor. No hemisfério norte, lançam um filme chamado Always, e o público sai de casa, compra o ingresso pra ver. Não aqui, onde ele ganha o nome de... Além da eternidade. Benzadeus.

Dei toda essa volta para falar deste livro essencial. Coragem, de Osho, mestre espiritual* indiano (Editora Cultrix, tradução Denise C. Rocha Delela), tem passado longe da atenção de muitos por pura inépcia do mercado editorial. Pois, ao ser catalogado, caiu na vala comum da “autoajuda” – sinônimo imediato, para muitos, de fajutice.

Segundo dados do IBGE, a porcentagem das pessoas “sem religião” cresceu de 0,7% em 1940 para 7,5% em 2000 (em poucas semanas, teremos a atualização destes dados). Um crescimento altamente significativo, que mostra como as religiões organizadas estão perdendo terreno, sem que as pessoas deixem de cultivar sua espiritualidade. Pois é justamente essa, a importância de autores como Osho e Krishnamurti (também editado pela Cultrix), leitura fundamental para quem tem disposição de percorrer os porões da alma.

(*) Assim chamado na contracapa do livro. É bem possível que, assim como Krishnamurti, ele rejeitasse o rótulo.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Volta às aulas

Ao mudar para a roça, ano e meio atrás, saiu de cena o professor, dando lugar ao tradutor, que se alterna com o revisor de textos. Mas o vento sopra noutra direção, e retomei a docência, em tempo parcial. Instantes de apreensão: era forte, a desconfiança de que a capacidade de falar outro idioma estaria coberta por espessa camada de ferrugem.

Não deu outra: no início da aula – eram apenas duas alunas –, me senti o próprio impostor. As palavras e expressões mais básicas pareciam surgir de um vale profundo. De uma língua em que fui fluente numa encarnação recente. Sudorese, a reação do corpo. Muita água, para compensar. E não é que o tormento durou não mais que meia hora? Bastante à vontade, já na segunda metade da aula.

Vá entender os processos da mente.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Quantos mil?

“Aproveito a chance e informo que recebi uma propaganda por e-mail. O 'assunto' era 'propostaserra' (não vou publicar o endereço; sou um cara educado). Pediam-se sugestões. Dei duas: a) em vez de colocar dois professores em cada sala de aula, diminuir o número de alunos em cada uma; b) informar, durante o programa eleitoral, em que condições o candidato se aposentou na Unicamp (12 mil por mês, segundo informou há algum tempo Mônica Bérgamo, sem nunca ter sido desmentida)”.

Da coluna de Sírio Possenti (professor de Linguística da Unicamp), hoje no Portal Terra.

Em tempo, me antecipando ao arremesso de tomates: não sou dilmista, marinista, nem qualquer tipo de –ista .

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Direitos imprescritíveis do leitor

1. O direito de não ler.
2. O direito de pular páginas.
3. O direito de não terminar um livro.
4. O direito de reler.
5. O direito de ler qualquer coisa.
6. O direito ao bovarismo (doença textualmente transmissível).
7. O direito de ler em qualquer lugar.
8. O direito de ler uma frase aqui e outra ali.
9. O direito de ler em voz alta.
10. O direito de se calar.

Como um romance, de Daniel Pennac (tradução Leny Werneck), Rocco e L &PM Pocket, 2008.

Precioso, este livrinho. Para quem cultua o livro como objeto de prazer. Nas últimas vinte páginas, o autor fala detalhadamente sobre estes dez direitos.

Dos que tenho exercido com regularidade, o de nº 3 (nada como abandoná-lo sem piedade nem culpa, verdadeiro alívrio) e o nº 5. Taí uma lista que deveria ser afixada em toda escola do planeta – o direito nº 10 merecendo negrito ou caixa alta. Pois a quimera que alimento é estar vivo no dia em que, nas escolas, o aluno poderá pura e simplesmente apreciar – ou detestar – um livro, sem tem de explicar o porquê.