sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Essa é pra tocar no rádio (4)

Outro quilombo, de Renato Braz, Atração Fonográfica.

Arrebatador. É o termo que melhor define este álbum de Renato Braz. Vou ao dicionário me certificar do significado da palavra, e encontro lá: “que tem o poder de extasiar, de encantar, que excita ou entusiasma”. Na medida: na etimologia de entusiasmar, está en + theos, ou seja, preenchido por Deus.

Na primeira faixa (que dá nome ao álbum), de Mário Gil e Paulo César Pinheiro, já acontece algo de inexplicável. A experiência me remete ao que senti ao caminhar pela Cidade Velha, em Jerusalém. Sensação que palavra nenhuma tem a capacidade de traduzir.

A faixa 7 (omito o nome e já explico o porquê), bem no meio do disco, oferece uma curiosa experiência ao ouvinte. Se você ler o nome dela antes de ouvi-la, e sobretudo se já teve ou tem alguma forma de engajamento político, muito provavelmente virá à tona, de imediato, uma série de ideias pré-concebidas sobre o que esta música representa, os ideais que defende etc, que acabarão comprometendo a fruição. Se o cedê lhe chegar às mãos, faça a experiência: ouça, simplesmente, o límpido vocalise de Renato, que dialoga com a belíssima linha melódica do clarinete de Nailor Azevedo. Exemplo claro de que a música transcende a política, embora possa funcionar como suporte a essa, conforme o momento histórico (Vandré, Chico Buarque da primeira fase etc).

O clímax do disco é Segue o teu destino, poema de Ricardo Reis (Fernando Pessoa), musicado por Sueli Costa. Aqui, um contraponto radical (e necessário) à quase totalidade das canções românticas de todos os tempos, baseadas em versos como “minha vida não tem sentido sem você”, “preciso de você como a flor precisa de água” e variações em torno disso. Lembrança de que nascemos e morremos sozinhos, e a força maior deriva justamente daí: de nos percebermos como seres integrais. Despertou interesse? Vá ao grande oráculo moderno, o Google; com dois cliques você encontra a letra.

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