sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Palíndromos - Segunda Temporada

Nada como um hiato entre um trampo e outro. Em período de micro-férias, a desova é estimulada.

Já sabe o leitor que escrevo da roça e que, além da Mulher e de mim, a casa tem o felino. Marcando a retomada, então, um palíndromo rural:

SERTÃO? SÓ A TRÊS.

Mas este é um caso singular de palíndromo-flex. Vivesse eu choramingando pelos cantos (razão para deprimir nunca falta, basta procurar), ele poderia ter nascido assim:

SER TÃO SÓ A TRÊS...

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Calão

“Não tenho medo de porra nenhuma”, disse Muricy Ramalho, um dia antes de sua demissão do Palmeiras.

Essa foi a frase original. Eis as versões que chegaram ao leitor nas folhas:

a. p.... nenhuma
b. p#&!*@% nenhuma.

Dirão que isso é bobagem, mas a queda de Muricy tem pouco a ver com questões profissionais. Foi derrubado pela própria língua. Com um cazzo/catso, a comunidade palestrina ainda seria condescendente. No limite, com um ôrra, meu! Com a porra, jamais.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Mistérios (4)

Os que aplaudem o pôr-do-sol na praia são os mesmos que batem palmas quando o avião aterrissa na pista?

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Túnel do tempo

Quatro ou cinco vezes ao ano, quase sempre em feriadão, o vizinho abre a casa. E vem acompanhado de amigos, que nunca sabemos se são meia dúzia ou 320, pois pouco se manifestam. Ou por outra: conversam pouco; preferem marcar presença por meio de potentes amplificadores. O cardápio musical (cujos itens, a depender da empolgação, são oferecidos a 130 decibéis) inclui:

Frenéticas, Roberta Flack, Sidney Magal, Electric Light Orchestra, Juca Chaves, Gretchen, Paralamas, Titãs, The Cure, Bill Halley, Villa Lobos em ritmo de samba (vão ser ecléticos assim na casa do Carvalho), Village People, o som putz-putz (cada música tem dois acordes, dura uns oito minutos, e toca como se estivesse em looping. Tecno, acid? Que nome tem isso?), Jorge Ben, Ira, a trilha sonora de rodeios, Hooked on Classics (Beethoven em ritmo de discoteca etc). Quando entrarem Carpenters, Bread, Elton John e Earth, Wind and Fire, aí sim o menu estará completo.

Tamanho ecletismo me põe a imaginar (é o que me resta: os muros são altos, e o insufilm oculta a identidade de quem chega), a cada vez: que idade tem essa moçada? Quantas gerações estão ali representadas?

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Possuídos

1. “Assinale a alternativa que possua um erro gramatical”. (Enunciado de prova de concurso).
2. “O senhor possui o Cartão Mais?”. (Nove dentre dez caixas do Pão de Açúcar).
3. “Você não possui mensagens na caixa postal”. (Operadoras de celular).
4. “Mônica, a amiga do Cebolinha, possui dentes enormes”. (Redação de aluno).
5. “O senhor possui filhos menores de 18 anos?” (Atendente de empresa de TV a cabo). A mais perigosa das perguntas. A resposta afirmativa pode resultar em processo.

O que terá acontecido com o bom e velho “ter”?

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Sírio Possenti

O link para sua coluna no Terra Magazine estava aí em cima, mas estava dando confusão, o acesso a ela não era automático. Volto a dar o toque: Possenti, professor de linguística da Unicamp, escreve todas as 5as feiras nesse espaço do Terra (com certa regularidade na revista Língua Portuguesa, e eventualmente no Aliás, do Estadão). Seu texto de hoje está especialmente interessante, ressaltando as possibilidades lúdicas oferecidas pelas línguas. Relata uma experiência feita em Sabino, interior de SP (semelhante ao que ocorre na França, há tempos). Lembra dos palíndromos (me deu ganas de retomar a produção), dando dicas de fontes. Um ótimo, mencionado ali: TUCANO NA CUT. E por aí vai.

Um livro dele de que gosto particularmente é A cor da língua e outras croniquinhas de linguista (ALR/Mercado das Letras,2002).

Enfim, o cara é mui bom. Até quando está mal-humorado (o que não ocorre tão raramente assim).

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

MPB para o Taliban



Jorge Vercilo, em turnê pelo Afeganistão.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

(Des)classificados

É por essa e por outras que leio de tudo, de rótulo de embalagem de húmus de minhoca a manual de celular. Sempre algo de instrutivo. Anúncio de emprego no jornal, recrutando pedagoga. Os requisitos (caberia um ponto de exclamação em cada, mas prefiro listá-los):

- Habilidade em vendas
- Possuir veículo próprio
- Conhecimento em hardware
- Enviar CV com foto

Concluído o magistério, apenas? Nada disso: os tempos são bicudos; as exigências, idem.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Efeito Ivete Sangalo

Dias há em que, em vez de ficar enchendo linguiça e também o saco do leitor, é melhor ficar na moita. Esse é o grande problema do blogueiro: o prazo nunca lhe aperta o calcanhar. Se é tudo muito solto, sem obrigações e a água longe de chegar ao nível do joelho, a produção corre o risco de sair meia-boca.

Ressaca pré-folia, deve ser isso.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Guerra


Conferência de Yalta, fevereiro de 1945. Neste encontro, Churchill, Roosevelt e Stálin decidiam os rumos que o planeta tomaria após o grande conflito, que estava prestes a terminar. Os bastidores desta conferência, do Massacre de Katyn, facetas não muito conhecidas do líder soviético, e muito mais, no fabuloso livro de Laurence Rees, Stálin, os nazistas e o Ocidente (Ed. Larousse), traduzido por este escriba. Só agora (com a obra já publicada, hélas) vem à luz a verdadeira foto do evento, sem retoques.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Tipologia textual

No colo do revisor cai uma quantidade infinita de textos, e das mais variadas procedências. Com a ajuda de colegas, começo a estabelecer uma tipologia deles. Destes, dois tipos já foram comentados cá no blog, de passagem.

Texto Enceradeira. Você lê o primeiro parágrafo. Ao terminar o segundo, chacoalha a cabeça: “Êpa, ele já disse isso”. O mesmo se dá no final do terceiro parágrafo e também na conclusão. Muito comum em alguns textos de autoajuda, em que o autor parece apostar numa espécie de Alzheimer da parte do leitor.

Texto Gelo Seco. Seu estilo é grandiloquente. Salpicado de termos e expressões como “hodiernamente”, “outrossim”, “via de regra”. Com sua erudição de fachada, arranca do leitor incauto um “oh!”. Lido com atenção, se esfarela todo.

Texto Turma da Mônica. Redondo, comportado e esteticamente agradável. Introdução, desenvolvimento e conclusão: está tudo lá, sem qualquer tropeço gramatical. Porém, um texto completamente anódino. Surpresa e ousadia zero.

Texto Trombadinha. Neste caso, o redator tem um tema previamente determinado, sobre o qual tem de dissertar. Esbarra nele, dá um encontrão e sai correndo, para falar de qualquer outra coisa. Por vezes, o tema original pode ser encontrado na primeira, segunda e última linhas. Como recheio do sanduíche, uma longa digressão.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Comemorando




Juliana, a sobrinha querida, é caloura no curso de Dança da Unicamp. Conquista a ser brindada em alto estilo.

Provocação ao leitor voraz

“Enquanto lemos, nossa cabeça, na realidade, não passa de uma arena dos pensamentos alheios. E quando estes se vão, o que resta? Essa é a razão pela qual quem lê muito e durante quase o dia inteiro, mas repousa nos intervalos, passando o tempo sem pensar, pouco a pouco perde a capacidade de pensar por si mesmo – como alguém que sempre cavalga e acaba por desaprender a caminhar. Tal é a situação de muitos eruditos: à força de ler, estupidificaram-se. (...) Do mesmo modo como uma alimentação excessiva causa indigestão e, consequentemente, prejudica o corpo inteiro, pode-se também sobrecarregar e sufocar o espírito com uma alimentação mental excessiva. Pois, quanto mais se lê, menos vestígios deixa no espírito aquilo que se leu”. (Schopenhauer, em Sobre o ofício do escritor, tradução de Luiz Sérgio Repa e Eduardo Brandão, Martins Fontes).

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Mistérios (3)



Por que, quando você pede um croissant, e há quatro tipos disponíveis, a balconista lhe pergunta “Qual seria?” ?