sexta-feira, 30 de julho de 2010

A sinc da semana

“Se queres saber quem é Juanito, dê-lhe um carguito”. Provérbio espanhol, citado por Frei Betto, em entrevista à Caros Amigos.

Frase que pega uma confortável carona no tema do post “Cancioneiro 8”, que você leu dia desses.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Summerhill, por Matthew Appleton (2)

"Tem havido muita discussão na mídia sobre o problema da cábula, mas nada tem sido dito sobre o problema das crianças que passivamente aceitam o regime da sala de aula sem questioná-lo. Nada é dito a esse respeito, pois isso não é visto como um problema. No entanto, basta uma rápida recapitulação na história humana, em especial a do século XX, para nos lembrar que a aceitação passiva e a obediência sem questionamentos prepararam o caminho para males muito maiores do que aqueles causados pelo rebelde ocasional. A educação compulsória produz indivíduos coercíveis, dispostos a permitir que os outros moldem seu destino.

Experiências feitas nos Estados Unidos por Stanley Milgram ilustram o problema com uma clareza assustadora. Voluntários foram convidados a participar de um laboratório de psicologia, no qual lhes pediram que dessem choques elétricos em alguém na sala ao lado. Os voluntários podiam, através de uma janela, ver essa outra pessoa, que estava amarrada a uma cadeira. Disseram-lhes que estava sendo feita uma investigação dos efeitos da punição no aprendizado e que o papel deles era administrar choques elétricos – que iam gradativamente crescendo – a essa pessoa toda vez que ela respondesse incorretamente a uma questão. O que eles não sabiam é que esse outro indivíduo era, na realidade, um ator, e que, de fato, não havia eletricidade nos choques dados.

Eles eram encorajados pela pessoa que conduzia o experimento a aumentar a voltagem, ainda que o ator gritasse e se contorcesse, como se estivesse em agonia, a cada vez que eles faziam isso. Apesar de expressões de grande desconforto da parte de muitos participantes, 65% continuaram a administrar o choque máximo de 450 volts, já que o condutor do experimento lhes dizia que não havia problema em fazê-lo. Isso ocorria a despeito da angústia visível na expressão do ator, e das etiquetas nos interruptores que incluíam o aviso “Perigo: choque violento”. Numa variação sobre esse tema, o ator alertou os participantes para o fato de que ele tinha um leve problema de coração e pediu para ser solto quando a voltagem chegou a 150. Mas, mesmo assim, 26 dos 40 voluntários continuaram a administrar o choque máximo de 450 volts. Ao serem entrevistados na seqüência, a resposta mais repetida era “Eu só estava fazendo o que me mandaram”."

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Crítica de música popular: uma dica

O link para o blog dele já está listado aí em cima há algum tempo. Mas acho importante, a ênfase. Ele é colaborador assíduo da revista Fórum e escreve para a Carta Capital, além do que posta no blog.

Falo de Pedro Alexandre Sanches, crítico que faz um trabalho fundamental em nossa cena musical: com uma generosidade que chega a ser comovente, revela inúmeros talentos fora do “mainstream” e traz à tona, volta e meia, a relação estreita entre gosto musical, exclusão e preconceito. Sem contar que dialoga com feras do assunto: ver a longa e belíssima entrevista feita (em seu blog) com José Ramos Tinhorão, uma das principais referências na crítica de música popular.

Não é à toa que não tem espaço nos jornalões. Seria um contrassenso.

Cancioneiro (8)

“O medo de amar é não arriscar, esperando que façam por nós o que é nosso dever: recusar o poder”.

“O medo de amar é o medo de ser livre”, de Beto Guedes e Fernando Brandt. Álbum Amor de índio, de Beto Guedes, EMI-Odeon, 1978.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Escola Summerhill, por Matthew Appleton

Transcrevo trechos do livro Uma infância com liberdade - A autorregulação na Escola Summerhill, de Matthew Appleton. Livro pelo qual me apaixonei, e que traduzi. Embora já tenha sido aprovado por uma editora (após a recusa de várias outras), foi colocado na fila, cujo tamanho ignoro. Matthew morou nas dependências de Summerhill durante sete anos, trabalhando como houseparent.


AULAS NÃO-OBRIGATÓRIAS

Sempre me surpreendeu o fato de tantos visitantes desejarem assistir a aulas. Nunca consegui entender qual o atrativo nisso. A singularidade de Summerhill reside em sua vida comunitária, seu autogoverno e sua liberdade de expressão, e não em suas aulas. Nenhuma metodologia de ensino especial é empregada nessa escola. Na verdade, as aulas são freqüentemente dadas de maneira bastante tradicional. Os professores trazem seus estilos próprios e têm a liberdade de ensinar como quiserem — ninguém lhes diz de que forma devem ensinar. Se há quaisquer qualidades em particular que as crianças de Summerhill revelam em seu trabalho feito em classe, não tomei conhecimento. É no aspecto emocional da vida que Summerhill sobressai, e não no acadêmico. A única diferença importante nas aulas dessa escola é o fato de elas não serem compulsórias.

Certa vez, uma inspetora de escolas me perguntou “O que vocês fazem quanto ao problema das crianças que não assistem às aulas?”. “Esse não é um problema”, respondi, “se as crianças não freqüentam as aulas, é porque têm coisas mais importantes a fazer”. Ela não conseguia acompanhar a lógica de meu raciocínio. Não podia conceber que as crianças pudessem ter algo mais importante do que se sentar numa sala de aula o dia inteiro para ter aulas. A idéia de que crianças que não assistissem às aulas pudesse ser qualquer coisa exceto um problema era completamente estranha a ela.

Como as crianças assistem às aulas somente de maneira voluntária, não temos a cábula. A experiência de cabular aulas e a de não ter de assistir a elas são muito diferentes. Aquele que cabula experimenta a liberdade como algo sorrateiro e desafiador. É uma coisa que acontece às costas do mundo adulto e em reação à autoridade por ele imposta. Em Summerhill, as crianças sentem-se aprovadas, freqüentando ou não as aulas. Elas experimentam a liberdade como natural. Isso é direito delas, respeitado pela comunidade à qual elas pertencem. Elas fazem suas próprias escolhas. Receber ordens, sobretudo de uma maneira rude, pareceria estranho a elas. Temer os adultos e ter de viver os prazeres delas escondido deles seria para elas algo impensável. Isso pode não acontecer no momento de sua chegada a Summerhill, mas passa a ser o caso à medida que elas se habituam à vida nessa escola.

(Continua...)

sexta-feira, 23 de julho de 2010

O sarcasmômetro

Deu na Língua Portuguesa deste mês.

“Um programa de computador criado por pesquisadores da Universidade Hebraica, em Israel, é capaz de detectar frases sarcásticas escritas na internet. O algoritmo responsável pela façanha foi batizado de SASI, sigla que designa, em inglês, “algoritmo semissupervisionado para identificação do sarcasmo”. Testado em frases postadas no microblog Twitter, a ferramenta conseguiu identificar o sarcasmo de enunciados com uma precisão de 77%. Ainda que a eficácia não seja de 100%, é preciso lembrar que, muitas vezes, nem mesmo humanos entendem conteúdos sarcásticos.”

Mais uma joia do humor involuntário. Imagino o sucesso que tal aparelhinho pode fazer, quando chegar cá nos trópicos. Não só aqui, mas em toda parte onde impera o analfabetismo funcional.

Enquanto o SASI não chega, vamos recheando nossas frases com o “rs”. Falando nele, no dia em que meus escritores prediletos passarem a usar este recurso (ou quando me deparar com um “lol” num livro em inglês), jogo a toalha: a boçalidade terá vencido.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Tributo a Ibrahim Sued

Não deve ser fácil a vida de um gringo determinado a aperfeiçoar seu português. Ao comprar o jornal de hoje, por exemplo, já na primeira linha do texto sob a manchete, ele encontra uns pedregulhos no caminho. À frase:

“Faltando dois meses do período de coleta de dados da taxa anual de desmatamento, o ritmo de abate de árvores na Amazônia indica queda de 47%”.

“Hein?”, reage ele, encafifado: “Não seria ‘faltando dois meses para o [término do] período etc’?”. "Ou então 'A dois meses do término do período etc'"?

Uma vez mais, a dificuldade crônica do redator no emprego de “a” ou "há" – inúmeras vezes, já li coisas como “há dois meses da competição, o time ainda está...”. Entende-se, portanto, sua intenção: tentar se esquivar do problema.

O que me faz lembrar de uma historieta contada sobre Ibrahim Sued, lendário colunista social de décadas atrás. Ele pedira à sua secretária que preenchesse um cheque de 60 mil cruzeiros. Minutos depois, ela lhe pergunta:

– Ibrahim, 60 eu escrevo com “c” ou com “esse”?

Ele pensou, pensou, coçou a cabeça e tascou:

– Ah, faz dois de trinta, vai.

terça-feira, 20 de julho de 2010

Onde vamos parar?

“Defendo que a escola deve pensar em não considerar mais como erros certas construções usadas por todas as pessoas cultas quando falam e mesmo em textos literários. Não defendo que TODAS as construções de TODAS as pessoas em TODAS as circunstâncias sejam aceitas, mas aquelas que as pessoas CULTAS não percebem mais como erros.

Refiro-me a construções como ‘Preferir alface do que rúcula’, ‘Tinha muita gente na praça’, ‘A moça namora com o vizinho’, ‘Me disseram que a seleção embarcou’, ‘Mandei ele fazer isso’, ‘O Brasil, ele é um país desigual’ etc. (...) Ante propostas assim, muitos perguntariam: ‘onde vamos parar’: a) Vamos parar onde já estamos (pois quase todo mundo já fala assim, com exceção, às vezes, de especialistas em erros); b) Escolas e sistemas de seleção seriam mais justos, ao cobrar o domínio do português culto de seu tempo”.

Sírio Possenti, em artigo na revista Língua Portuguesa de julho/2010.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Phoda-se

Está sendo um sucesso mundial, este aparelhinho, de enorme utilidade para usuários de qualquer idade, em suas relações interpessoais. Tem o nome de Phoda-se, nome comercial PDS. Disponível em duas versões: a subcutânea (mais cara, mas com a indiscutível vantagem de não precisar ser acionado em cada situação) ou a manual. Trata-se de um dispositivo muito discreto, que pode ser atado à palma da mão, e ativado com o simples toque do dedo (médio, de preferência).

Listamos, a seguir, apenas algumas das situações em que ele lhe pode ser útil. a) Você quer curtir o seu som em volume ilimitado, a qualquer hora da noite ou do dia, e seu vizinho rabugento implica com isso; b) A pessoa que lhe presta serviços lhe cobra resposta sobre um e-mail que enviado há semanas, ao qual você não tem a mínima intenção de responder. A pressa é só dele, afinal; c) Você trabalha como pedreiro, marceneiro, pintor etc e seu cliente quer lhe imprimir um ritmo de trabalho que, definitivamente, não é o seu; d) No ônibus, idosos à sua volta, você quer exercer o sagrado direito de usufruir de seu assento; afinal você pagou pela passagem, o que não é o caso deles – que, ainda por cima, furam a fila no banco; e) Em seu namoro ou casamento, sua/seu parceira/o o procura para conversar de quando em quando, ainda que você já lhe tenha dito ene vezes que a D.R. não faz seu estilo.

São essas e muitas outras, as utilidades do PDS. Conheça já este aparelho que está sendo considerado, pelos mais eufóricos, como a versão tecnológica do Soma, a pílula do universo criado por Huxley, no livro Admirável Mundo Novo. A felicidade plena ao seu alcance.

Compre já o seu Phoda-se. Numa pharmácia perto de você.

(Se persistirem os sintomas, o inconsciente deverá ser consultado).

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Tradução e revisão: créditos

No post sobre o livro de Rosa, aí embaixo, faltou o crédito aos tradutores. Ops! Aproveito e incluo um P.S., sobre a revisão, ou a ausência dela. Lá está, devidamente editado.

Uma pelada memorável

Noite de 4ª feira, Cidade do Panamá. Jogo beneficente, entre Seleção dos Amigos do Messi e Seleção do Resto do Mundo. Um clima de casados x solteiros, daqueles da firma, faltaram apenas o churrasquinho e as brejas. Flashes da partida, a seguir.

1. Os gandulas eram guris de não mais de 10 anos. Decerto viviam seu dia de glória.
2. O locutor (SportTV) deixava a bola rolar, com inacreditáveis brancos na narração (que bênção, quando fecham a matraca!). Ou então fazia o que manda a sensatez, quando pouco de relevante rola no gramado: trazia várias informações extra-campo.
3. A certo momento, locutor calado, ouvia-se a narração do jogo, pelo microfone do estádio. No melhor estilo dos rodeios.
4. A cada vez que Messi tocava na bola, histeria coletiva. Parecia programa de auditório, com a claque programada para aplaudir e dar gritinhos.
5. Fim do primeiro tempo, um dos jogadores que fora substituído minutos antes... volta ao campo! O que me faz pensar: ué, e por que não nos jogos oficiais? Isso não faz a graça, por exemplo, do basquete?
6. Início do jogo. Lúcio, o zagueiraço do time de Dunga, jogando pelo time do argentino, faz uma lambança inesquecível, que resulta em gol do adversário. Minutos depois, se redime e faz um golaço, de placa. Deve ter acordado ontem e dito: “Hoje o Felipe Melo sou eu”. Faltou só o pisão na canela alheia.
7. Cafu, embora já tenha pendurado as chuteiras, também atuava como “amigo” de Messi. Aos 40 anos, corria com a disposição de um moleque de 18, fazendo jogadas belíssimas. Ok, o adversário, um mistão de atletas (dentre os quais Materazzi, o que acolheu a cabeça de Zidane na Copa de 2006) não era grande coisa, mas ainda assim deu certo trabalho.
8. As cortinas se fecham com um placar elástico: 6 x 3, com dois gols do homenageado. Um verdadeiro show para quem curte futebol.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Sintonia fina

O leitor atento aos detalhes (tão pequenos de nós dois), e que passa por aqui depois de visitar a casa virtual da Mulher, ou vice-versa, terá percebido. É uma filigranazinha, mas ela faria a delícia de adeptos da numerologia ou da cabala. Do jogo do bicho, quiçá.

A ela, pois. Repare no horário em que foi postada a mensagem de ontem. Olhe, então, para postagem de ontem, no blog dela. Isso porque a distância entre nós era (é) de 400 kms, e nossa comunicação, esporádica.

Tenho ou não motivos para alimentar meu TOC de classe (se você chegou agora, revire os arquivos recentes do blog: há um post com esse título)?

terça-feira, 13 de julho de 2010

A arte de entrevistar

Há alguns anos, um escritor, não lembro mais quem foi, disse num artigo de jornal, que entrevistas revelam uma profunda preguiça jornalística. Infelizmente, esta lembrança me é recorrente. Sobretudo pela constatação, tantas vezes presente, de que o repórter não se preparou para o trabalho. Catou uma informação aqui, outra acolá, juntou tudo, e lá foi. Surpresa zero na formulação das perguntas, obrigando o entrevistado a disfarçar o tédio. Não é mero acaso que alguns artistas se recusem a dar entrevistas.

A melhor antítese destas pseudo-entrevistas está num livro de Rosa Montero, que deveria ser parte compulsória dos cursos de Jornalismo e de Letras: Muitas coisas que perguntei e algumas que disse (tradução de Newton Andrade e Ana Lima Cecilio, Cubzac, 2007). Nele, além de crônicas e algumas poucas reportagens, ela apresenta treze entrevistas feitas para o El País, ao longo de vários anos. Entre outros, conversa com Harrison Ford, Paul McCartney, Lou Reed, Mario Vargas Llosa, Prince, Margaret Thatcher e Martin Amis.

As conversas são intercaladas com impressões da autora, compondo um perfil de seu interlocutor. A empatia dela pelo entrevistado, bem como as dificuldades enfrentadas ao longo da conversa, para fugir do óbvio são ali expostas, criando uma enorme proximidade com o leitor, transmitindo a ele uma sensação de autenticidade. Mais importante que isso: a forte sensação de que ali, diferentemente de inúmeros entrevistadores por aí afora, está alguém extremamente atento para que o ego não se sobreponha. Alerta para que a conversa não se transforme, em momento algum, numa exibição oca de erudição. Atento para se dedicar inteiramente à escuta (esta, a verdadeira arte).

Assim, termino, por exemplo, a leitura da conversa entre ela e o escritor espanhol Javier Marías absolutamente encantado e doido de curiosidade em ler um livro seu. Isso sem jamais ter tido a mínima referência a seu respeito. Com o depoimento de Harrison Ford, a gana de explorar tudo o que fez além da série Indiana Jones. Com o de Prince, a vontade de escutar atentamente um de seus álbuns. Em relação a vários dos entrevistados (sobretudo James Lovelock, cientista inglês), o sentimento de emulação, na acepção mais generosa da palavra.

Já disse outro dia, mas repito: Rosa Montero é uma autora imprescindível.

PS: Não há o crédito ao revisor, como é de praxe. O que passaria desapercebido, caso alguns erros ao longo do texto não estivessem tão visíveis. Um sinal lamentável de desleixo, sobretudo num livro como esse.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Cafuné na final da Copa

Já temos o waka waka na trilha sonora deste domingo, mas aqui vai minha contribuição. Shakira e Milton Nascimento, quem sabe dá liga.

“Brigam Espanha e Holanda
Pelos direitos do mar
o mar é das gaivotas
que nele sabem voar
Brigam Espanha e Holanda
pelos direitos do mar
porque não sabem que o mar
é de quem o sabe amar”

“Um cafuné na cabeça, malandro, eu quero até de macaco”, de Milton Nascimento e Leila Diniz. Álbum Sentinela, de Milton Nascimento, 1980.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Cattle Air

Me confesso incapaz de inventar histórias, ao escrever. Se por um lado isso traz uma pequena frustração, por outro pode ser bom: dois ficcionistas sob o mesmo teto talvez azedasse a convivência. O consolo é que a vida real, às vezes, dá de dez na ficção. Exemplo disso está na nota abaixo, do jornal.

“A Ryanair é conhecida por sacrificar o conforto para oferecer voos baratos na Europa. Prometeu cobrar pelo uso do banheiro. Cumpriu. Agora, a empresa pretende substituir as últimas 10 filas por 15 fileiras de ‘assentos verticais’. Os passageiros viajariam em pé”.

Novidadeiros como somos, não demorará para que a ideia seja implantada por aqui. Aliás, já dispomos do norráu: ao entrar nos trens do metrô carioca, percebe-se que na extremidade de cada vagão há um amplo espaço sem banco algum. Deve ficar uma beleza, aquela área, nos horários de pico.

Nenhuma queixa: tudo em nome do progresso.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Uma vitória na Justiça

(Sensação de déjà-vu? Vá direto ao PS 2).

Talvez você já tenha acontecido contigo: ser desrespeitado por uma destas empresas públicas, como a Telefônica, Eletropaulo etc. Se não é o caso, haverá sempre um vizinho por perto, com uma história macabra para contar. Acabo de passar por uma destas histórias, mas ela teve um desfecho que me traz o dever moral de compartilhar.

Deixei a casa onde morava, em Sampa, há 16 meses. Poucos dias após a mudança, cancelei a linha telefônica em meu nome, perguntando se não havia nenhuma pendência de pagamentos. Negativo, me garantiu o atendente, que me forneceu número de protocolo, devidamente anotado por mim. Pois bem, quatorze meses depois, alguém da empresa encontra, sabe-se lá como, meu celular, e me avisa de uma pendência de quase R$ 200, referente a três contas não-pagas. Claro que fui alvo da incompetência (ou má-fé, não ficou claro) da Telefônica. Virei bicho. Assim que o sangue esfriou, fui à luta.

Anote esse nome, ele lhe poderá ser útil: Juizado Especial Cível. Trata-se do antigo Juizado de Pequenas Causas. Órgão do Governo do Estado, por cujos serviços o cidadão não paga um centavo (fica dentro da Estação São Bento do Metrô). Atende a casos de algumas empresas, somente: Telefônica, Eletropaulo, Finasa e mais umas cinco. Registra-se a queixa, e é então marcada uma audiência de reconciliação, a que estarão presentes um representante da empresa e outro do juizado. Se não se chega a um acordo ali, é marcada uma audiência com o juiz, a quem caberá a decisão final sobre o caso. A boa nova é que tudo acontece rapidamente. Dez dias após registrar a queixa, e na primeira das audiências, tive meu caso solucionado, com um acordo que em poucos minutos anulou todas as supostas dívidas.

Será ótimo se você puder espalhar esta notícia ao maior número possível de amigos/colegas (caso tenha um blog, divulgar neste espaço é uma boa ideia). Não temos a tradição de reclamar por nossos direitos, mas percebo que, embora lentamente, o quadro está mudando. E, nesse sentido, este juizado desempenha um papel importantíssimo, e fazendo um belo trabalho.

PS 1: E dá-lhe, sinc! Post engatilhado, deparo com matéria do Estadão, sobre um novo Juizado Especial da Fazenda, serviço sub-utilizado por ser ainda desconhecido. No centro de Sampa, tel. 3242-2333. Para ações indenizatórias, sem a necessidade de advogado. Matéria no jornal de 03/07/10, caderno C1.

PS 2. Se você já leu meu relato via e-mail, arrepare não no café requentado. Tivesse sobrando grana, eu o colocaria como matéria paga na primeira página dos jornalões e em revistas.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Os prêmios de cada um

1. O matemático russo Grigori Perelman recusou oficialmente o prêmio de US$ 1 milhão do Instituto Clay de Matemática (CMI) pela resolução da conjectura de Poincaré, enigma geométrico que desafiava cientistas desde 1904. Segundo o site do instituto americano, que lançou o desafio em 2000, o dinheiro recusado será empregado “em benefício da matemática”. Além de ter ignorado as normas da imprensa científica ao publicar a solução do problema na internet em 2003, após ter trabalhado no enigma durante sete anos, Perelman recusou em 2006 a medalha Fields, considerada o Nobel da matemática, e havia rechaçado o prêmio do Congresso Europeu de Matemática, em 1996. O cientista, de 43 anos, mora em um pequeno apartamento em São Petersburgo com a mãe e não exerce atividade remunerada.

2.
Lucia Guimarães: O senhor já disse, com ironia, que o comitê do Prêmio Nobel de Literatura não o tem decepcionado, ano após ano. Há muitos que o consideram o grande injustiçado dessa honraria. Alguma vez pensou no discurso que vai escrever se ganhar o Nobel?
Philip Roth: Não. Vamos lá fora que eu lhe dou a resposta (Paramos no meio do imenso gramado, cercados de árvores centenárias). Aqui está. Olhe em volta. Eu preciso de um Nobel quando tenho tudo isso?

(Fonte: Estadão de 03/7/10).

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Cancioneiro (7) - O craque

Muita grana pode ser o mel
Todo mundo apenas pro seu bel prazer
Muita grana pode ser pinel
Muita grana pode ser poder
Muita grana pode ser papel e mais papel

Muita mídia pode resolver
Muita mídia pode parecer que se é Deus
Muita mídia pode ser o céu
Muita mídia pode ser o breu
Muita mídia pode ser você virar patê

O craque pode ser o tal na mídia
Ou nunca entrar na mídia e ser o tal
E mesmo sendo genial
Também terá seu dia mau
Não vá cobrar que seja bom em tempo total

Veja o craque como um ser normal
Veja o craque apenas como tal
Deixe o craque no gramado e o resto na geral

“O craque”, de Vicente Barreto e Celso Viáfora. Álbum E a turma chegando pra dançar, de Vicente Barreto. Dabliú Discos, 1999.