segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Dica

A Mulher não divulgou a participação nesse trabalho, não sei bem por que, mas achei pra lá de bacana, a antologia. Autores não só de textos: áudio, vídeo e imagens. Além dela (que tem ali a adaptação teatral de um conto seu), há uma porção de gente boa, incluindo André Dahmer, um fera da HQ atual (link aí ao lado). Sem contar o visual do site, que é belíssimo. Taí, toque dado: Antologia Digital, organização de Heloisa Buarque de Hollanda. Espia lá.

Eu sou um gato

Esse é o nome do romance de Natsume Soseki (Estação Liberdade, tradução de Jefferson José Teixeira), narrado por um felino. Livraço. Impressionam nele a elegância do estilo e das frases e a ironia fina, que refletem a superioridade do gato sobre o amo e, de tabela, sobre os humanos em geral.

Algumas passagens são demasiadamente longas, mas o prazer em acompanhar a narrativa se mantém. Terminado o livro, percebi que aumentou meu respeito por Valentina, e minha admiração pelo modo como ela concentra a energia, para usá-la nos momentos certos. E por sua intuição: saca perfeita e imediatamente quando a energia das pessoas ao redor é boa ou não: junta-se ao grupo ou recolhe-se, conforme o caso. Soseki (falecido em 1916) teria, contudo, muitíssimo a acrescentar à densidade da personalidade de seu bichano, tivesse conhecido Valentina. Pois, além de refletir tudo o que está narrado na obra, ela também consegue revelar uma malice (derivado do adjetivo mala, bien entendu) singular, exigindo uma dedicação 24 horas, mesmo depois de saciada a fome e dos cafunés todos. Sorte nossa que seu namorado vem visitá-la de quando em quando.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Palíndromos (2)

Àqueles que se graduaram em Psicologia a toque de caixa:

NA CALMA, RELERAM LACAN

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

SOS Blogueiro

Inacreditável, mas não consigo fazer a operação copiar/colar, para o post de hoje. Operação que, dentro de um documento Word, faço com dois palitos. Como meus conhecimentos não são tão rudimentares assim, deve ser algo relacionado com meu inferno astral. Sem contar que, olhando para as instruções, por aqui, não encontro a forma de listar meus blogs favoritos aí ao lado (sem essa história de "seguidores", que parece indicar que terei de catequizar alguém, ou coisa que o valha).

Alguém de plantão por aí, que saiba decifrar esses enigmas da blogosfera?

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Mundo cão

Outra situação que já surgiu algumas vezes, cá na roça. O visitante olha o tamanho de nossa casa e do terreno e lasca: “Vocês têm que ter um cachorro, aqui”. O saboroso desses comentários é a sua ambiguidade. Temos que ter um cachorro porque: a) eles adoram um espaço amplo, correr, pular e explorar a mata; b) aperte a tecla SAP do que acaba de ser dito: “tenho um cão e, vivendo em apartamento, a sensação dele é claustrofóbica”; ou c) é uma questão de segurança – é imprudência viver num lugar isolado sem esse tipo de preocupação. O porquê fica no ar, ou então acolhemos o comentário com um nada convincente “Ah, é verdade!”. Mal sabem eles que Valentina, a gata da Mulher, duas vezes já botou pra correr a cadela amarelinha, a intrusa do pedaço.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Churras: flashes

1. Ciente de que trinta bocas estariam presentes, eu alertara os convidados sobre minha lerdeza, como piloto de churrasqueira. Nenhum comentário a respeito, na troca de emails. Pânico infundado, porém: Edinho (esse merece carteira assinada, 14º e o escambau), Joca e Alê assumem o posto e dão baile. Michel dá coordenadas preciosas no manejo das brasas e grelhas. Acabo no papel de coadjuvante.

2. 17h. Num churrasco típico, a essa altura os convivas estão empanturrados. Neste, começava a segunda rodada, e com carnes nobres. No outro lado da varanda, o ping-pong comendo solto.

3. A roda aberta. Cachaça fina, vinhos e brejas circulando, e o grupo gargalhando à larga. Decisão conjunta de adiar o retorno do fretado, esticando o prazer por mais duas horas. Me perguntava: haverá cenas parecidas no Rio, em BH etc, escritores festejando a vida desse jeito? Mercearia São Pedro fazendo escola por aí? Putz, oxalá.

4. Fim, 20h. Ana e eu olhamos para a casa: Átila passou por aqui? Seguem-se doze horas seguidas de sono, e o corpo ainda traz as marcas. Nada como um Aconcágua de louça para organizar e filtrar as lembranças – e também o que merece vir para o blog. Reprise mental das várias demonstrações de solidariedade e de afeto que pipocaram aqui e ali. Quem dera todo cansaço fosse acompanhado de tamanho bem-estar para a alma.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Pesquisas e a falta de leitura

Dia desses, em seu blog, a Mulher levou ao ar comentários de leitores seus, da “geração que não lê”. Mensagens que contrariam essa ideia. Pois bem. No sábado, saiu uma reportagem do Estadão sobre um novo imposto sobre livros, que está sendo discutido pelo governo. Nela, um box com o título Retrato traz os dados de uma pesquisa, sem menção de fontes. Entre outros:

- 45% dos brasileiros declaram não ter lido nenhum livro nos últimos três meses
- 29% das pessoas que não leram livros no último ano dizem que faltou tempo

Bem, manda o bom senso que se desconfie de pesquisas. Mas ok: aceitemos o resultado dos dados acima, por ora. O duro mesmo é engolir o “faltou tempo”. (Me pergunto, aliás: tal resposta é espontânea ou induzida pelo entrevistador?). Sobra tempo para a TV, para a internet (somos campeões mundiais em tempo gasto na rede, dizem as... pesquisas), para as baladas, o vídeo, mas não para o livro. Ouço também, com frequência: “não leio no ônibus porque me dá tontura/enjoo”. Curioso: no metrô, o chacoalhar é bem menos intenso; ainda assim... quantos estão lendo, no vagão em que você entra...?

Outra justificativa, não mencionada ali, mas muito usada para justificar a falta de leitura: o preço do livro. Sim, seu custo no Brasil é alto, sobretudo na comparação com outros países. Na Inglaterra, por exemplo, é comum achar um bom livro por 7 libras, o equivalente a 3 cafezinhos. Tente comprar um com o valor de 3 cafés. De fato, livro aqui é caro. Mas o argumento não cola. Façamos as contas: quanto sai a despesa de uma noite de balada? Ou um cedê? Uma bolsa, um par de tênis, o celular modernérrimo? E quanto se gasta num livro? Questão de prioridade, né não?

Caberiam outras justificativas para a não-leitura: “Não gosto de ler”, “Ler é entediante, prefiro filmes”, “Isso não me acrescenta em nada”, “Ler não tem utilidade nenhuma”, e por aí vai. Mas e a coragem para admitir uma opinião dessas, diante do entrevistador? A preocupação com a autoimagem (ou em ficar mal na fita, como dizem) ainda é maior.

Pesquisas, autoimagem... dão uma tecelagem pra manga, esses assuntos. Voltarei a eles.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Palíndromos (1)

Antes de dar início a essa série, lembro aos entusiastas que a criação de palíndromos gera uma dependência braba, sua vida social pode ser afetada. Aconselhável associá-la a outras coisas, como prazos de entrega lhe tocando o calcanhar. Dito isso, começo a desovar alguns de minha lavra. O primeiro corre o risco de atrair a ira dos adeptos do PC (politicamente correto). Mas vamos lá:

OBESOS: SÓ SEBO

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

A volta de Simão Bacamarte

Setor de Otorrinolaringologia de um renomado hospital público de São Paulo, anteontem. Talvez devido à falta de salas, ou então à grande demanda, a médica fazia uma triagem na própria sala de espera. Mas não apenas a triagem: uma espécie de pós-consulta também. Ao lado, ouço a conversa entre ela e o paciente:

– Seu Antonio, olha, é o seguinte: estive analisando o seu caso, vamos ter mesmo que internar o senhor.
– Hein?
– Vai ser preciso, pra dar continuidade ao seu tratamento.
– Mas... internar? Por quê?!
– Pois é, seu Antonio...

A seguir, dois possíveis desfechos para o episódio. Comecei a achar que presenciaria este primeiro:

Surgem dois brutamontes, um de cada lado de Seu Antonio. Que já sente o braço ser agarrado. Dois PMs se postam ali perto, para o caso de necessidade.

– Ei, o que é isso? Me larguem!
– São os procedimentos, seu Antonio. É melhor o senhor cooperar.
– Que história é essa de internação? Me soltem! Arhmmpf.

Sobreveio, porém, o desfecho (sur)real:

– Márcia*, você chamou Antonio Carvalho, não foi? – pergunta o colega, da recepção.
– Isso mesmo.
– Aqui está ele (apontando para o verdadeiro Seu Antonio).
– Ai, desculpa, senhor! (também chamado Antonio).

Itaguaí é aqui.

(* Nome fictício, para não estimular uma caça às bruxas no C.R.M.)

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Silêncio

Um comentário recorrente de pessoas que vêm nos visitar na chácara é sobre a tranquilidade daqui. Que provoca nelas diferentes reações. Alguns nos invejam por termos tido a coragem de trocar o burburinho de Sampa por esse lugar, realizamos o sonho que sempre foi deles. Em outros, o espanto se mistura à admiração: como vocês conseguem viver sem cinema, sem baladas, sem o agito todo? Não se entediam? Sobrinhos meus, uma meia-hora após sua chegada, dia desses, já não suportavam a experiência. Valiosa, pra mim, é a oportunidade que se tem, aqui, de entrar em contato com o silêncio. O silêncio, acompanhado da inatividade, carrega consigo a culpa. A velha culpa da matriz cristã. Experimente ficar quieto e contemplativo, no sofá de nossa varanda. Só observando o vai-e-vem dos beija-flores, sem pensar nas tarefas da casa, no prazo da tradução ou revisão a ser entregue – silenciar a mente. A culpa, provocada pela ociosidade, vem a galope. Para mitigar o sentimento, recorro aos livros, que me trazem a sensação (também ilusória) de que estou fazendo algo útil. Mas a literatura é de uma inutilidade deliciosa.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Sincronicidades

No dia em que resolvi que criaria um blog, fui à cidade com a Mulher*. No momento em que entro no carro, rádio ligado, começa a tocar a canção de G.Gil: “Eu quero entrar na rede / promover um debate / juntar via internet...”. Claro que isso não é coincidência: o plano de criar esse espaço, aqui, me perseguia havia muitos meses. Dizem que, quando se dá conta delas, as sincs passam a acontecer com frequência cada vez maior.


*Daqui por diante, é assim que farei a referência à Ana, a moçoila com quem divido o ninho. Para evitar o “minha” mulher. E também termos como parceira, companheira, esposa, consorte, cônjuge. Um mais horrendo que o outro.

Estreia

Os pitacos que darei nesse espaço terão temas variados: derrapadas linguísticas, lugares-comuns e gramatiquices; o recém-adotado estilo de vida no campo; traduções e revisões. E o que mais der na veneta.