segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Um diário

Diário do Diabo, de Nicholas D. Satan, transcrito pelo Professor M. J. Weeks (tradução de Paulo Schmidt, Geração Editorial). Fora da seção de livros de arte, há tempos não me deparava com um livro graficamente (cedo ao adjetivo óbvio) tentador. Borda dourada, imitando as bíblias, o charmoso fio vermelho como marcador de páginas, folhas amareladas simulando material antigo. Ótimas sacadas do tradutor, ainda que o revisor tenha cochilado aqui ou acolá, deixando no caminho as marcas da sintaxe do inglês.

Um a um, vão sendo mencionados os personagens históricos que tiveram uma mãozinha do Tinhoso: Pilatos, Nero, Átila, Gengis Khan, Torquemada, Marquês de Sade, Al Capone, Hitler, McCarthy, Reagan, Thatcher, Sadam Hussein.

E cadê Osama? É quase inacreditável, mas a referência ao vilão número 1 dos EUA está perdida num apontamento de outubro de 1996 e, num diário repleto de datas, o 11/9/2001 é simplesmente ignorado. Censura? Autocensura? Medo de retaliações da comunidade islâmica?

Fato também curioso, na edição brasileira: na quarta capa, no selo onde está o código de barras, o logo da editora e, acima dele, a inscrição: “Humor”. Sintomático, por escancarar o semianalfabetismo avassalador que nos rodeia. É isso que faz com que João Ubaldo Ribeiro, por exemplo, tenha de avisar, em sua coluna no jornal, o momento em que usará a ironia.

Diário é um livro que se lê com prazer. Não me arrancou uma mísera gargalhada, mas tem lá seus momentos de humor inteligente. Um único cuidado a ser tomado: ao ler no ônibus, não escancarar a capa ao olhar vizinho. Os fundamentalistas estão por toda a parte.

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