domingo, 7 de novembro de 2010

Sem crédito

Ônibus: um excelente laboratório para a observação da espécie. Nele, nossa fauna revela toda a sua exuberância. Toca o celular da moça ao lado:

– Alô? Oi, Vanessa. Tudo bem? Desculpa, mas não deu tempo de atender, eu tava falando no outro celular. Tudo tranquilo? (...) É, liguei, sim, faz uns dez minutos.
– (...)
– Ah, nada de urgente, não. É que eu tenho um crédito, dos bônus que a operadora me deu, e tenho que usar.
– (...)
– É, hoje é o último dia, senão eu perco tudo. Então, tudo bem aí?
– (...)
– E aí choveu também, agora há pouco?
– (...)
– Nossa, aqui tá muito estranho, deu uma pancada, parou, e agora já tá ventania de chuva de novo.
(Bafo de tarde de verão em São Paulo. Não sopra uma mísera brisa)
– (...)
– Então, amiga, já te falei: nada demais. É que está acabando, os créditos no celular.
– (...)
– Peraí, já te ligo, já já. O outro celular tá tocando.
– (...)
– Isso, me liga, sim, amiga. Não, melhor: eu te ligo mais tarde. Tenho que aproveitar os créditos. Senão vou perder.

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