quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Silêncio

Um comentário recorrente de pessoas que vêm nos visitar na chácara é sobre a tranquilidade daqui. Que provoca nelas diferentes reações. Alguns nos invejam por termos tido a coragem de trocar o burburinho de Sampa por esse lugar, realizamos o sonho que sempre foi deles. Em outros, o espanto se mistura à admiração: como vocês conseguem viver sem cinema, sem baladas, sem o agito todo? Não se entediam? Sobrinhos meus, uma meia-hora após sua chegada, dia desses, já não suportavam a experiência. Valiosa, pra mim, é a oportunidade que se tem, aqui, de entrar em contato com o silêncio. O silêncio, acompanhado da inatividade, carrega consigo a culpa. A velha culpa da matriz cristã. Experimente ficar quieto e contemplativo, no sofá de nossa varanda. Só observando o vai-e-vem dos beija-flores, sem pensar nas tarefas da casa, no prazo da tradução ou revisão a ser entregue – silenciar a mente. A culpa, provocada pela ociosidade, vem a galope. Para mitigar o sentimento, recorro aos livros, que me trazem a sensação (também ilusória) de que estou fazendo algo útil. Mas a literatura é de uma inutilidade deliciosa.

3 comentários:

Unknown disse...

o problema é que quando a gente senta pra assistir a vida, a mente não silencia, como você falou. ao contrário, ela tem o som de um galinheiro lotado. o fato é que ela funciona sempre assim, a gente é que não escuta, surda com a algazarra cotidiana.

Vi do Trilhas disse...

ah lembrei-me de meu pai q qdo eu era criança e íamos para um siti ozinho q tinhamos dizia: ouça o som do silêncio! é maravilhoso!é verdade!!!

Diogo da Costa Rufatto disse...

Silenciosos minutos são preciosidades raras. Tão inúteis e maravilhosos quanto a literatura.
Concordo!