sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Dia de caça



Se o miado é muito diferente do conhecido, é batata: Valentina voltou da mata trazendo um quitute. Mini-morcego, beija-flor ou camundongo, os itens principais do menu. Saio na varanda, ali está ela, um roedor entre os dentes. Esperneando. Em vão. Ela segue na direção da cozinha. Sim, não basta caçar, sente a necessidade de trazer o troféu pra dentro de casa, atirando a presa diante de nós, como a dizer “Não punham fé em mim? Olhaí”.

Fecho portas e janelas, disposição nenhuma para recolher animal morto. A gata se dedica, então, ao seu passatempo. Solta o bicho, que sai cambaleando. Ela acompanha. Dá outra patada. Ele vai às cordas, por assim dizer. Percebo que Valentina, uma senhora já entrada em anos, tem o jeitão de ter sido agente do DOPS, numa encarnação recente.. Raramente mata. Mas aprecia uma boa tortura. Vai lá, abocanha o bicho. Larga. Dirige a ele um olhar falsamente blasé, do estilo nem te ligo. Outra patada. Desesperado, o camundongo busca a fuga.

Até que, percorridos bons metros terreno afora – eu de espectador, só monitorando –, o animal descobre uma toca. Estropiado, mas se safou. Ela se posta de guarda, durante minutos. Fim da caça. Minutos depois, Valentina se esparrama na cozinha, certa de que honrou seus ancestrais selvagens.

Quem diria que a poucos passos de meu escritório eu teria o ambiente ideal para cenas do Animal Planet.

(Imagem tirada daqui)

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