quinta-feira, 6 de maio de 2010

Essa é pra tocar no rádio (6)

Madan. Dabliú Discos, 1997.

Musicar poemas que não foram originalmente concebidos para virar canções, eis a tarefa a que se dedicou Madan. Poetas e autores cuja musicalidade ele explora a fundo, neste álbum: Adélia Prado, Olga Savary, Arnaldo Antunes, José Paulo Paes, Ademir Assunção, Haroldo de Campos, Olga Curado, José Roberto Aguilar, Francisco V. Albuquerque e Frei Betto.

O resultado é primoroso. O casamento entre letra e música raramente deixa transparecer que elas foram criadas de modo independente. Uma combinação adequada requer do músico a percepção da sonoridade do poema, muito mais do que a busca de meros acordes a serem colados aos versos.

Exemplo célebre dessa justaposição meio simplória é o caso de um trecho bíblico que, junto com alguns versos de Camões, foi musicado por um famoso artista pop, por volta dos anos 80. Resultado: uma prosódia que, de tão pouco natural, consiste na verdadeira antítese dos versos de Luiz Tatit: “Tem sílaba que leve oscila e cai como uma luva na canção”.

Pontos altos do disco, que apresenta um intérprete na medida justa: “Passa pra dentro, menina!”, de Olga Curado, a comovente “Anímico”, de Adélia Prado (ambas com cheiro de mato) e “Números”, poema transformado em samba, de José R. Aguilar. Uma única canção me parece destoar do conjunto, mas não pretendo bancar o estraga-prazeres.

P.S. Texto terminado, dou uma espiada no encarte. Não resisto e transcrevo a apresentação de Ademir Assunção: “Madan tem um incrível talento para transformar poemas em canções. As palavras fluem fáceis, nada forçado. Com sua sensibilidade especial, consegue descobrir a sonoridade e o ritmo dos versos, vestindo-os com melodias ora doces, ora melancólicas. Som, palavra e voz se harmonizam neste CD repleto de belezas Um presente para ouvidos sensíveis”.

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