quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Vingança

Escrevo ainda sob o impacto da leitura de Eu não sou um macaco, de Virginie Lou (tradução de Nilma Lacerda, Nova Fronteira). Livro que prende o leitor com descrições que são puro cinema. Vítima de uma humilhação pública, a adolescente Joëlle arquiteta a vingança contra seu agressor. Paradoxalmente, é de seu silêncio que ela adquire força, atitude que desconcerta todos à sua volta.

A chave do título (é prudente desconfiar dele – e também da classificação da obra: infanto-juvenil – e atentar para o texto da orelha, da própria tradutora) é dada somente nos últimos parágrafos. Páginas antes, porém, uma simples cena desencadeia, com sutileza quase imperceptível, o conflito interno da protagonista, que só se resolve plenamente no final.

A propósito, é também este o tema de Bastardos inglórios, de Quentin Tarantino, tão incensado pela mídia, mas que me dá tão pouca curiosidade de conferir (talvez pelo excesso de ketchup que provavelmente espirrará da tela). Se você é fã da violência crua e do sadismo, passe adiante: é tudo que não verá no livro de Virginie. Nele, se a vingança é o fio condutor da narrativa, o pano de fundo são os limites, a ética e a capacidade de empatia humana.

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