sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Essa é pra tocar no rádio (7) - Final

Luiz Tatit e Grupo Rumo

Tivesse eu que selecionar uma pequena amostra para quem desconhece Tatit, destacaria as canções em que o narrador dialoga com a mulher amada: a Cristina de “Acho pouco”, a Ivone de “Aceita a serenata”, a Odete de “Olhando a paisagem”, a Sofia de “Haicai”. Letras permeadas por uma deliciosa autoironia - um traço presente, aliás, em toda sua obra.

Na fase pós-Rumo, Tatit lançou quatro cedês: Felicidade, O meio, Ouvidos, uni-vos, e o recente Sem destino. Dentre eles, O meio tem um encanto especial. Álbum temático (assim como Felicidade), suas letras têm como fio condutor o distanciamento dos extremos. A busca da medida justa e do meio-termo, seja no contexto do envolvimento afetivo ou em outro qualquer. Curiosamente, o disco traz ecos de um curso de Linguística dado por ele, na FFLCH, de que participei como aluno. Com a mesma paixão que demonstra pela composição, ele aplicava a teoria semiótica de Greimas às letras de nosso cancioneiro. Árida, a teoria tratava dos estados de conjunção e disjunção do sujeito. Em termos palatáveis: ora a pessoa está de posse do objeto de seu desejo, ora não. Comentário do mestre-cantor, no meio de uma das análises: “Vivemos sempre num movimento pendular, entre a ‘euforia’ proporcionada pelo ‘ter’ e a ‘tristeza’ do ‘não-ter’. Mas o mais comum mesmo é ficarmos no caminho do meio”. Na mosca: é este o caminho percorrido por todo o álbum. Não é gratuito, por exemplo, que em “Trio de Efeitos”, entre o “bom” e a “má”, o próprio Tatit assuma o papel do “médio”, do “medíocre perfeito”.

Pequena digressão: uma relativa dificuldade, ao seguir o curso, que fiz nos anos 90, era a de separar meus papéis de aluno e de fã, época em que a “tietagem” ainda fazia algum sentido. Assim, volta e meia eu fazia anotações quando, de repente, uma frase sua trazia uma inflexão que quase me levava a interromper, dizendo: “Ei, escutaram isso? É puro Rumo!!”.

Ainda Hélio Ziskind, sobre Tatit: “Ele é obcecado, na hora de compor; se alguém já fez, para ele não interessa. Quer fazer diferente”. Não surpreende que tenha, entre seus parceiros, gente como Itamar Assumpção. Outras parcerias que resultam numa combinação perfeita entre letra e música incluem José Miguel Wisnik (recomendo “Para Elisa”, de seu álbum São Paulo Rio), Ná Ozzetti e Dante Ozzetti.

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