quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Meu dia de Dersu Uzala

Trabalho no micro, tarde de ontem. Súbito, ouço Flávio, o vizinho, berrar meu nome. Naturalmente histérico, ele, mas dessa vez seu tom de voz ultrapassava o normal.

“Vem cá, vem ver isso!”. Me leva até o terreno ao lado, aproximadamente 50 metros adiante da cerca que delimita nosso espaço. Fogo. Vários focos, aqui e ali. “Chamo os bombeiros?”, pergunto. “Esquece, eles nem chegam até aqui”. Ele arranca um galho grande com folhas e começa a extinção, no braço. Imito, mirando os demais focos. Tudo seco, sem chover há dias, o fogo se espalha rápido. Sorte não estar ventando, senão babau.

Cerca de 40 minutos, durou a função. Olho para o resultado, a grande mancha preta e duas cobras mortas (“não conseguiram fugir, olhaí”, diz ele), e me vêm à mente flashes do belíssimo filme de Kurosawa, que assisti há uns bons 30 anos. Me senti o próprio Dersu, gritando o nome do Capitão nas estepes da Rússia.

Nem nos sonhos mais delirantes eu me imaginaria dando uma de bombeiro amador, a essa altura da vida. Já disse aqui, e repito: de tédio não se morre, nestas bandas.

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