terça-feira, 9 de março de 2010

Essa é pra tocar no rádio (5)




Fake Standards, de Rodrigo Rodrigues. Dubas Brasil, 2007.

Rodrigo integrou, ao lado de Mário Manga e Fábio Tagliaferri, o grupo Música Ligeira, que lançou dois cedês, duas preciosidades com uma grande variedade de repertório (Paulinho da Viola, Cartola, Beatles, Paul Simon etc, no primeiro; Irving Berlin, Inácio Zatz, The Who, Stevie Wonder, mais Beatles etc, no segundo). Além dos vocais, tocava violão, pandeiro e gaita. É de lamentar que genialidade e longevidade não resultem em boa rima: em 2005, Rodrigo nos deixou, vítima de leucemia.

Regravações, na maior parte das vezes, revelam certa preguiça musical. Pois é justamente o que não acontecia no Música Ligeira. Prova disso são os arranjos de You’re Going to Lose that Girl (Beatles), Qui nem Jiló (H. Teixeira/Luiz Gonzaga) e A Banda (Chico Buarque). Esta última virou um... rap. Recriações radicais, nos moldes da já clássica versão de Joe Cocker para With a Little Help from my Friends, ou da transformação que Itamar Assumpção operou nas canções de Ataulfo Alves (não há um samba sequer, nos dois cedês – Ataulfo Alves por Itamar Assumpção – Pra sempre agora, Paradoxx, 1996). Demonstração de profundo respeito ao ouvinte, já farto de versões requentadas.

Fake Standards pode ser tudo, menos fake. Recria clássicos da canção americana, como Let’s Face the Music and Dance, My Funny Valentine e Cry me a River. Impressionam a simplicidade, delicadeza e refinamento dos arranjos. O ponto alto do disco é Isn’t this a Lovely Day (Irving Berlin), em que Rodrigo faz um dueto de arrepiar com Marcia Lopes.

A melhor síntese de Rodrigo é a frase de Zuza Homem de Mello: “O Rodrigo, então, quando canta, toca a alma da gente”.

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