segunda-feira, 15 de março de 2010

Túnel do tempo (final)

Dia desses, desenterrei alguns cedês. Fui catapultado para a infância e a adolescência, época em que a música entra naturalmente pelos poros.

Lá pelo final dos anos teen, os filtros da razão começaram a exercer sua tirania. Um professor de inglês, no cursinho, diante de uma letra do Elton John, decretou: “Pessoal, essa letra não diz naaaaaaaaaaada!”. O inglês deixava, então, de ser um bloco de sons indecifráveis, frases e textos começavam a fazer sentido. Foi a conta: em minha percepção musical, o mundo passou a ser dividido entre o papo-cabeça e o kitsch. Entre a chamada música séria e a descartável.

Mas minha trajetória sinuosa foi trazendo outras experiências, tudo para embaralhar as coisas: quando trabalhei numa discoteca em Eilat (Israel), pedi ao DJ que me gravasse uma fita cassete, com minhas canções prediletas em hebraico, dentre aquelas que ele tocava noite após noite. Ouço a fita até hoje, curto muito. E o que entendo de hebraico, além dos números e de meia dúzia de frases úteis que compõem o kit de sobrevivência? Xongas.

Eu já começara a me reconciliar com meu passado musical, quando li uma declaração de uma artista por quem tenho grande admiração, Rita Ribeiro: “Elton John é um dos maiores melodistas do mundo”.

O açúcar de certas letras de música pode estar esparramado a ponto de provocar a náusea. Fato é que a apreciação da música popular vai muito além de uma experiência cerebral. Ainda bem.

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