quarta-feira, 21 de julho de 2010

Tributo a Ibrahim Sued

Não deve ser fácil a vida de um gringo determinado a aperfeiçoar seu português. Ao comprar o jornal de hoje, por exemplo, já na primeira linha do texto sob a manchete, ele encontra uns pedregulhos no caminho. À frase:

“Faltando dois meses do período de coleta de dados da taxa anual de desmatamento, o ritmo de abate de árvores na Amazônia indica queda de 47%”.

“Hein?”, reage ele, encafifado: “Não seria ‘faltando dois meses para o [término do] período etc’?”. "Ou então 'A dois meses do término do período etc'"?

Uma vez mais, a dificuldade crônica do redator no emprego de “a” ou "há" – inúmeras vezes, já li coisas como “há dois meses da competição, o time ainda está...”. Entende-se, portanto, sua intenção: tentar se esquivar do problema.

O que me faz lembrar de uma historieta contada sobre Ibrahim Sued, lendário colunista social de décadas atrás. Ele pedira à sua secretária que preenchesse um cheque de 60 mil cruzeiros. Minutos depois, ela lhe pergunta:

– Ibrahim, 60 eu escrevo com “c” ou com “esse”?

Ele pensou, pensou, coçou a cabeça e tascou:

– Ah, faz dois de trinta, vai.

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