quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Osho, Krishnamurti e os rótulos

Sempre que entro numa livraria, tento imaginar quanta grana os editores e livreiros têm jogado pelo ralo, com a classificação por assuntos. Ok, isso dá ao leitor uma orientação geral – ainda que, segundo a lenda, Raízes do Brasil, de Sérgio Buarque de Holanda, já tenha sido catalogado na seção de Botânica por um bibliotecário incauto.

Num delírio de imaginação, tento visualizar uma livraria nos tempos de Leonardo da Vinci. Ou de Aristóteles. Tempos em que as áreas do conhecimento pareciam dialogar muito mais.

Mas divago. Por que o desperdício de dinheiro? É a terceira vez que deparo com esta situação. Imagine um livro intitulado Coragem. Seu apelo comercial é quase zero, não? Mistério: na edição original sai assim mesmo, Courage, sem subtítulos, e vende igual. Aqui, não. Deve-se explicar tudo ao leitor. No hemisfério norte, lançam um filme chamado Always, e o público sai de casa, compra o ingresso pra ver. Não aqui, onde ele ganha o nome de... Além da eternidade. Benzadeus.

Dei toda essa volta para falar deste livro essencial. Coragem, de Osho, mestre espiritual* indiano (Editora Cultrix, tradução Denise C. Rocha Delela), tem passado longe da atenção de muitos por pura inépcia do mercado editorial. Pois, ao ser catalogado, caiu na vala comum da “autoajuda” – sinônimo imediato, para muitos, de fajutice.

Segundo dados do IBGE, a porcentagem das pessoas “sem religião” cresceu de 0,7% em 1940 para 7,5% em 2000 (em poucas semanas, teremos a atualização destes dados). Um crescimento altamente significativo, que mostra como as religiões organizadas estão perdendo terreno, sem que as pessoas deixem de cultivar sua espiritualidade. Pois é justamente essa, a importância de autores como Osho e Krishnamurti (também editado pela Cultrix), leitura fundamental para quem tem disposição de percorrer os porões da alma.

(*) Assim chamado na contracapa do livro. É bem possível que, assim como Krishnamurti, ele rejeitasse o rótulo.

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