segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Temas-tabu na literatura infanto-juvenil

No caderno Sabático, do Estadão, uma matéria de Antonio Gonçalves Filho aborda o livro Crítica, Teoria e Literatura Infantil, de Peter Hunt, da Universidade de Cardiff (Cosac Naify, trad. Cid Knipel). Trata de uma questão importante: o fato de a literatura infanto-juvenil ser relegada a um segundo plano, pela academia. Afirma o autor: “Claro que não sabemos como uma criança lê, se ela o faz como uma experiência literária ou funcional, mas não vejo razão para que os livros de criança recebam menos atenção que uma obra de Shakespeare”. Uma outra matéria, de Raquel Cozer, publicada ao lado, destaca o expressivo crescimento do gênero no Brasil (entre 2006 e 2009, o segmento juvenil cresceu 256%, enquanto o infantil teve um aumento de 124%). Nada mau.

Atento para uma declaração de Hunt, sobre os supostos “finais felizes” das histórias destes livros: “’Claro, não acho uma boa ideia escrever sobre doenças terminais para o público infantil’, responde, ao se referir a livros como Vovô Esqueceu Meu Nome, de Nancy Grünewald, sobre um ancião que sofre do mal de Alzheimer”. A seguir, pergunta-se se “devemos ou não escrever” sobre o episódio da bomba atômica de Hiroshima.

A comparação é inevitável: o mais recente livro da Mulher é Gagá: memórias de uma mente pirilampa (Scipione), no qual o protagonista sofre “apagões” mentais. Terá algum pai, alguma mãe – ou professor responsável pela seleção de obras para trabalho em sala – também considerado este tema “inadequado” para as crianças (a indicação da obra, pela editora, é para leitores a partir de 9 anos)? Uma eventual censura ao livro de Grünewald – ou a Gagá – devido ao tema não implicaria um endosso à atitude corrente, de desprezo à velhice (fase a que muitos se referem usando eufemismos tolos como Melhor Idade)?

A declaração de Hunt, em si, daria uma excelente pauta, infelizmente não explorada pelo jornal: há temas-tabu, a serem evitados na literatura infanto-juvenil? Em que medida pode-se fugir da onda do politicamente correto, esta praga contemporânea que tem tolhido a criatividade de tanta gente?

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