quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Por que voto Marina

Estava praticamente decidido a anular meu voto, quando assisti à entrevista de Marina Silva no Roda Viva. Mudei de ideia, no mesmo dia. Conversando com várias pessoas, percebo que elas têm bastante simpatia pela candidata do PV, mas dizem que não votam nela. São basicamente três, os argumentos apresentados:

1. Marina é uma ótima candidata, mas para daqui a 4 anos. Não para agora. Não está madura, dizem. Ainda se mostra radical. Argumento um tanto quanto abstrato. Juro que não entendo o que quer dizer isso, e a argumentação deles tampouco é convincente. Lembro que um temor parecido acometeu grande parte dos eleitores em 1989 (o Sapo Barbudo) e em 2002. O fato de o PV não ter feito alianças talvez contribua para reforçar o temor.

2. Além de ser evangélica, Marina é favorável ao ensino da teoria criacionista nas escolas. Um argumento que é fruto da ignorância, do preconceito e da intolerância religiosa – gostamos de acreditar que o sincretismo nos faz especiais diante do mundo, mas, assim como o racismo, nossa intolerância é dissimulada. Embora predominantemente católico, nosso país é laico. Portanto, é ingênuo acreditar que, uma vez eleita, ela seria teleguiada pelos evangélicos, no que se refere às políticas públicas. Não estamos no Irã. Sobre o criacionismo, Marina já declarou diversas vezes que defende, simplesmente, que os alunos tenham acesso a esta teoria juntamente com o evolucionismo. Propõe, portanto, a convivência pacífica, não a exclusão.

3. Não voto nela porque não tem chances; veja as pesquisas, tem apenas 10% das intenções de voto. Além de frágil, um argumento que se baseia no medo e no eterno apego ao que é familiar e conhecido. E apaga da memória fatos importantes, como a arrancada final de Luiza Erundina, na eleição para a Prefeitura de São Paulo em 1989, contra Paulo Maluf, quando todas as pesquisas apontavam a vitória deste.

Além das contra-argumentações acima, pesam muitíssimo a seu favor alguns fatores: 1) o fato de ser a única candidata com uma chapa coerente. São reais, as afinidades entre ela e seu candidato a vice, Guilherme Leal (para saber mais, leia o perfil dele, na revista piauí deste mês). Honestamente, não consigo imaginar o país governado por Índio da Costa ou por Michel Temer, ambos transformados em candidatos por conveniência (alianças com DEM e PMDB = maior tempo no horário eleitoral). O leitor acha que não há esse risco? Ora, Itamar Franco e José Sarney – para ficarmos na história mais recente – não tiveram de assumir? Deste último, minhas lembranças não são das melhores; 2) Marina rejeita a atitude messiânica que se espera de um presidente eleito, para a resolução dos problemas. Afirma reiteradamente que não fará milagres, bem como a necessidade de dialogar com toda a sociedade, inclusive com aqueles frontalmente opostos às suas propostas; 3) Em assuntos espinhosos, como a liberação do aborto, abandona o moralismo e deixa suas convicções pessoais em segundo plano: é favorável à consulta da população, via plebiscito; 4) Em que pese o radicalismo de alguns setores de seu partido, lutar por um planeta habitável é tarefa nobre. Afinal, é de nossa casa que estamos falando.

Em tempo: sobre o porquê de anular o voto. Ao optar por Marina, exerci meu sagrado direito, o de mudar de opinião quando bem entender. A anulação, que virá num eventual segundo turno entre Dilma e Serra ou noutra eleição qualquer, é uma maneira de protestar. Que raio de democracia é essa em que se pune o eleitor que decide não comparecer às urnas? Refrescando sua memória, em relação às punições: corte do ponto para os servidores públicos, multa, cassação de direitos do cidadão, como o de prestar concursos públicos, ou até mesmo o de tirar passaporte. Práticas que talvez fossem comuns na URSS de Stálin, mas que ocorrem num país supostamente democrático dos trópicos. A propósito: é lamentável que a discussão sobre o voto facultativo seja virtualmente ignorada pelos candidatos.

Nenhum comentário: