sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Ouvir sem escutar

“Quando duas pessoas estão conversando, apenas observe seus rostos. Uma pessoa está dizendo algo, a outra já está se preparando para responder a isso; ela não está escutando. Eu ouvi contar:

Aconteceu em uma universidade, dois professores ficaram loucos. (...) Os dois eram amigos, foram colocados ambos no mesmo quarto do asilo. O psiquiatra que cuidava deles ficou surpreso com uma coisa: sempre que eles conversavam, um deles escutava muito atentamente, tanto como o psiquiatra nunca tinha visto qualquer pessoa fazer antes, e se mantinha quieto; um deles permanecia completamente calado e atento e escutando. E, quando o outro parava, então o que estava escutando pacientemente começava a falar. E o problema para o psiquiatra era este: o que eles diziam não se relacionava com um ou com outro em nada. Um deles falava sobre o céu e o outro falava sobre a terra, um falava sobre o leste e o outro falava sobre o oeste.

Eles não estavam relacionados em nada, nem mesmo em aparência; estavam totalmente sem conexão. Mas isso não estava certo, porque com pessoas loucas você espera por isso. Mas por que um deles sempre escutava tão atentamente, para quê?, visto que, quando falava, por sua vez, o que dizia era algo absolutamente diferente, não pertinente a nada, absolutamente fora de contexto.

O psiquiatra desejava muito saber, ele ficou curioso e indagou: ‘Uma coisa me deixa muito curioso: vocês escutam um ao outro muito atentamente, mas, quando falam, suas falas não se relacionam em nada. Então por que escutam tão atentamente?’.

Eles riram e disseram: ‘Nós sabemos as regras de conversação. Esta é uma regra de conversação: quando a pessoa fala, o outro tem de escutar. E, no que toca a segunda coisa – que o que nós dizemos não está relacionado – você já ouviu qualquer conversa que esteja relacionada?’”

A revolução – Conversas sobre Kabir, de Osho. Trad. Carlota Alice de Moura, Ed. Academia, 2008.

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